Ajoelho-me ao seus pés.
Minha cabeça pende ao chão.
ao peso dos pecados e da gravidade.
Meus olhos se apiedam de mim
e de minhas circunstâncias...

Ajoelho-me perante sua grandeza
e minha miudeza interior se compadece.
Nossa microscópica misericórdia
despida de decência.

Somos pobres mortais.
E tememos a morte.
Títeres de nossos gens e história.
Deixamos recados nas preces, 
nas orações,  ladainhas e nas poesias
infindas que circundam o abismo.

A fé.
Que mistério indescritível.
De rituais de velas acesas, de rosários
que contam a passo a passo o caminho
de adoração.

Em nossa devoção, voltamos a ser 
ingênuos e impúberes
das crueldades da carne... e os gestos
pérfuro-contundentes esgrimam 
 ossos.

Nossa existência pregada na matéria.
E a matéria aderida ao tempo.
Aderente e contrita ainda rogo:
Libertai-me!
Quebrai os grilhões que aprisionam.

Os caminhos fechados que nos levam
a duvidar da sorte.
E renunciam o passo.

Dai-me a lúcida indicação de onde estás.
Se na cruz, na sacristia, na sinagoga ou na magia.
Dai-me mais um dia de luz.
Para vencer as trevas diárias de sempre amanhecer
para escuridão vindoura.

Dai-me essa devoção.
Como o último gesto.
Como sinal de passagem
e depois de eternidade.

Quando não for mais escrava
de minhas emoções e ilusões...
Que se viva ou se morra
com a plenitude possível,
com o lirismo razoável,
e com as lágrimas vertidas
simetricamente
ora em forma de orvalho 
e ora em poesia.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 07/03/2014
Reeditado em 07/03/2014
Código do texto: T4718588
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