O (DE)SERVIÇO DA “MÚSICA” ATUAL
Eu defeco sempre pela boca
E faço-de-conta
Que estou cantando
Acho um bando de imbecis
Que paga caro pelo meu show
Assim sou eternamente feliz
Já que não me esforço a nada
E mesmo assim estou com a
Agenda sempre lotada
Viajando norte-sul do país
Arrebentando-me de ganhar tanto dinheiro
De gente que passa fome
Que é quase sem nome
Mas eu agrado falando besteira
Deseducando seus filhos
Tirando-os dos trilhos
Como jogo merda jogo no ventilador.
Mas esse povo acha que isso tudo é amor.
Eu me chamo “bunda do colapso”
“Calcinha quase preta”
Ou calcinha rasgada sem fio, sem nada!
Tudo dá na mesma,
Quando jogo merda na estrada.
Posso ser o “sertanojo”
Ou “breganojo”
Tudo é mesmo igual
Sou mesmo “tropicália”
Ou coisa parecida com brasileiro
Posso estar no banheiro
Ou mesmo no palco
Estarei fazendo a mesma coisa...
Tudo é tão igual...
Sou a “Merda Eletrônica”
Que a juventude
Adora curtir
Dizendo que o que importa
É o balanço
Assim balanço minha algibeira
E a encontro cheia de dinheiro fácil,
Já que nem preciso de esforço,
Para tudo o que desfaço
Na cultura brasileira.
Sou chamado de DJ
Posso ser... Qualquer coisa mesmo!
Menos a coisa que pensa algo.
Para que eu pensar?
Minha cabeça fica fedida
Minha reputação perdida
No meio de meus colegas
Tão “inteligentes”
Tão “competentes”
Que o melhor mesmo é relaxar
E fazer-de-conta que canto
Qualquer merda serve
A quem não quer escutar.
Sou brasileiro
Sou Latino
Amo o dinheiro
Estou latindo.
A qualidade não importa
O que importa é a televisão
Lá apareço
Aumento o meu preço
Mas valor de verdade,
Isso eu não tenho não.
Vendo-me a qualquer preço
Solto pum na cara de meus fãs
Eles ainda acham graça
De qualquer palhaçada que faço.
Faço quase tudo
Que entorpece de burrice
Um jovem que passa!
O jovem é meu aliado
Sou alienado
Mas sei ganhar dinheiro
Já estive no Faustão
No Domingo Legal,
Que legal!
Estou virando “celebridade”
Pois estou na cabeça da juventude
Que nada tem de atitude
Além da falta de criatividade
Ah! Eu também sou “FUNK”
Forró de terceira
Ou de quinta categoria
Só que vendo milhões de CDs,
Não sou intelectual
Que não consegue vender
Uma bela poesia.
No fundo eu sei
Que o que faço
Não vale mesmo nada,
Mas a juventude gosta
A mídia aposta
Na renda multiplicada,
Por isso continuo
Jogando “Merda” no ventilador
Para aliviar a dor
Daquela rapaziada!
Eu canto colapso
Ou a “música” da “bundinha”
Faço-de-conta que encanto
A cabeça de meninadinha
E sigo minha trajetória
Cheio de vitória
Como a burrice estampada
No meio da galerinha.
Tudo parece brincadeira
Em tudo que vou fazer
Falo um monte de besteira
Entre mim e você
Mas a garotada “gosta”
E fica tudo direitinho
Meninas praticamente nuas
Mostrando o seu ... (prefiro nem dizer o quê!)
E os pais não colocam limites
Pois o “ECA” pega pesado
Por isso faço-de-conta que canto
E todo mundo fica se achando.
Sou mesmo “mala sem alça”
Eu sou a “calcinha rasgada”
Posso ser “mulher melancia”
Fazendo coisas na calçada
Mas tenho WWW...com.
E estou na crista da onda
Sou mesmo uma Merda
Jogada no ventilador
De todo o povo brasileiro.
Sou DI ganhando muita grana
Fazendo o imbecil comer grama
Tamanha burrice e alienação
Mas tudo isso me faz
Andar sempre de carrão.
Eu não me importo com qualidade
O negócio mesmo é agitar
Fazendo a galera ir à loucura
Com a mesma coisa de sempre
Mas ela pensa que é novidade!
Essa galera é mesmo burra
Mas eu não “tô nem aí”
Eu a ajudo continuar na mesmice
Toda cheia de burrice
Vendo a banda passar
Sem mover um palito de fósforo
Para mudar a direção do trem
Sou professor de Educação Física
Na academia ou na Escola
Coloco “Merda” eletrônica
Para agitar a galera
Acabando com seus tímpanos
E a deixando mais agitada
Para que eu possa ganhar muita grana
Para deixá-la relaxada!
É assim mesmo que faço
Transformo-me em palhaço
Mas não sei dar risada
E nem conto piada
Porém estou com a meninada
Contra os valores de décadas passadas!
E não vim para mudar nada
O negócio é deixar tudo como está
Todo mundo usando o mesmo terno
Morando no inferno
Criado pela própria ignorância
Mas isso enche minha poupança,
Por que vou mudar de atitude
Se a nossa juventude
Está com preguiça de pensar
E quer mesmo é seu esqueleto balançar
Sem nada a preocupar,
Então vou ganhando minha grana
Sem nada pensar,
E fim de papo!
Aires José Pereira é mineiro de Salinas, poeta por gosto e por pirraça que acredita nas palavras transformadoras de homens e de espaços. Possui 12 livros editados e vários artigos publicados em eventos científicos e Revistas de Geografia. É licenciado e Especializado em Geografia pela UFMT, Mestre em Planejamento Urbano pela FAU-UnB, Doutor em Geografia Urbana pela UFU. É Prof. Adjunto do colegiado de Geografia do Campus Universitário de Araguaína - UFT; Membro efetivo da Academia de Letras de Araguaína e Norte Tocantinense; Pesquisador do NURBA e coautor do Hino Oficial de Rondonópolis - MT
Obervação: é evidente que existem milhares de pessoas sérias fazendo composições maravilhosas em nosso país, porém, elas não tem espaço e por isto mesmo, quem faz sucesso geralmente é o que pior temos em termos de qualidade musical. Até alguns de nossos monstros consagrados da MPB estão trilhando pelos caminhos mais fáceis ao invés de lutar contra essa banalização da criatividade musical brasileira. Eles preferem chamar ao seu palco alguém que está na mídia sem ter esforçado em nada intelectualmente para produzir uma música decente.