Cara de bunda

O que tenho que ando com cara de bunda? Nada.

Tá na estampa, não carece olhar por fenda, tudo;

Se cada dia, mesmo feriado parece segunda; cada.

É só realidade, não cabe pensar que é lenda, escudo.

Sei que vejo antes a alheia corcunda; encurvada;

Mas, para que melhor me veja e aprenda, estudo.

Pois, se a minha alma carência inunda, malvada.

É que solidão me atrai para a sua senda, mudo.

Quisera , desbancar a solitude imunda, porrada;

Dar-lhe um pé pra fora de minha tenda, sisudo

Mas, claudico de uma a outra tunda, tomada;

Sem entender o motivo da contenda, contudo.

Cada garçon que minha mesa circunda; trapalhada;

Não discerne a quem convém que atenda, ajudo

Mistura comandas e fracasso redunda; mancada;

Estraga o soneto também a emenda, orelhudo.

Corpo pede colo duma caliente oriunda, amada;

Despida, em minúsculas peças de renda, acudo;

Servem à alma, uma esperança infunda; infundada...

Fazem que essa agrura muito se estenda, desiludo...

O que tenho que ando com cara de bunda??? Nada.

Se tivesse cá comigo a sonhada prenda , contudo;

Tiraria essa diatribe poética da funda, pedrada,

colocaria no amor a mais alta comenda; sortudo...