O Silêncio do Tempo.
Sábio é aquele.
Que não conhece a si mesmo.
Não sabe realizar o seu próprio significado.
Perde facilmente, vacila, entorta.
Divide ao meio.
Torna-se um turbilhão de fragmentos.
Entretanto, Não tem meio, começo ou fim.
Para objetivar o próprio início.
Caminha solitariamente na incerteza.
Como se não existissem montanhas.
A velha expressão do latim clássico.
Omnibus copiis hostium.
Contra as forças inimigas.
A vida é essa significação permanente.
Para o sábio não existe um determinado ponto.
Sobre o qual qualquer coordenada deva chegar.
A vida é apenas uma aproximação.
Entretanto o sábio deseja encontrar o ponto.
Como se a hipótese fosse à existência.
Não como ponto de chegada ou de partida.
A busca do eterno reinício.
O que é o princípio do início.
A não ser a permanência da substância.
Aristotélica.
A eternidade é apenas a repetição.
Uma combinação exatamente química.
O sábio quando aproxima da sabedoria.
Ele tem medo da natureza da sua essência.
Fundamenta-se não sendo sábio.
Portanto, não aproxima com sobriedade.
Nada sendo para o sábio.
O que não deve ser visto.
Com tanta sapiência.
A não ser o conceito.
Epistemologicamente.
Da natureza morfológica.
O verdadeiro sábio.
Acha tudo absurdo e ilógico.
Até mesmo a lógica da ilogicidade.
O sábio procura iluminar por dentro.
Sendo que por fora não existe clareza.
Mas seus olhos são turvos.
Pela caverna de Platão.
Entende o deserto como plenitude.
Mas jamais vangloria a si ou aos sonhos.
O mundo pertence apenas ao infinito.
Não consegue ver.
Muito menos entender a luz do mundo.
Procura evoluir por dentro.
Mas por fora é insuficiente.
É da natureza da sabedoria.
Não ser ela mesma.
Entender apenas as relações.
Projetivas das complexidades.
Inexauríveis.
O que deve ser descrito.
Mas não entendível.
Peremptoriamente.
O verdadeiro sábio.
Senta na calçada.
Toma sorvete, ri de si mesmo.
Imagina a realidade.
O mais absoluto delírio.
A não normalidade.
É tudo isso aqui.
Pensa o mundo.
Como uma grande loucura.
As ondulações
Confluências antagônicas.
O que se deve dizer de tudo isso.
Recordações.
Olha para rua e tenta refletir.
Sobre a multidão que anda sem direção.
Como se não fosse a terra.
Que gira em torno do sol.
Como se não fosse o sol a luz da terra.
E a razão a iluminação do sol e da terra.
O que enxerga mesmo.
São os mecanismos da memória.
O interessante de tudo isso.
O sábio sabe saber.
O não saber do saber.
Magnificamente.
Mas não sabe o saber.
Do seu não saber do saber.
Portanto sabe que sabe.
O não saber do saber.
Do saber que não sabe.
Exuberantemente.
A sabedoria só de vez em quando.
Aparece ao descobrir parte do caminho.
A maioria dos passos dos sábios são tropeços.
O mundo é um conglomerado de desacordos.
Enroscamentos indeléveis.
Como se tivesse lógica.
A convencionalidade.
O sábio é convencional.
E tem consciência que é tolo.
Mas quem dirige o mundo?
Os tolos que são loucos.
O sábio sabe que outros tolos.
Tais quais deixam os tolos.
Dirigirem o mundo.
Os tolos têm como objetivo.
Formar uma comunidade deles.
A comunidade é formada por eles.
Não tem como não serem tolos.
O sábio.
A partir da sua dialética.
Cria sua logística.
Com pedaços de fragmentos.
Constrói a realidade.
Será tanto maior ou menor.
Que o processo de síntese.
Com complexidades ideológicas.
Seus naturais equívocos.
O sábio entende que a verdade.
Evidentemente.
É apenas a lógica do tempo.
As diversidades dos olhares particulares.
E das cegueiras indecifráveis.
Quando o sol brilha antes do entardecer.
O que vem depois é uma imensa madrugada.
O despertar é a luz que não raiou antes do acordar.
Desejar entender o silêncio.
Compreenderá tão somente a intensidade.
Da madrugada.
O que será bastante para ser sempre escura.
Edjar Dias de Vasconcelos.