Minha poesia é uma velha cansada

Tentei rasgar meus poemas

Minha poesia é uma velha cansada

Atravessada pelo tempo

Rude como a pedra do rio corrente

Tudo passa e ela fica

Como um lagarto que dorme sob o sol

Tentei rasgar todos meus versos

Minhas estrofes são um emaranhado

De estrelas apagadas sobre o chão frio

Esquecidas pelos deuses e astrólogos

Pelos astrônomos e amantes

Que blindam suas taças nas madrugadas sem fim

Tentei... mas não consegui

Na primeira tentativa

Escorreu sangue pelas minhas mãos

Foi um corte profundo

E senti um som de quebra osso

Dei-me conta que tudo aquilo era eu

Tudo aquilo que era minha poesia

Era eu

Até quando não era

Era eu

Era eu do lado contraditório... o avesso

O lado escuro da lua e o oposto da rua

Não posso matar minha poesia

Seria um suicido

Não precisa chamar os bombeiros

Não vou atirar meus poemas

Do trigésimo quinto andar

Ainda não

Vavá Borges
Enviado por Vavá Borges em 19/02/2014
Reeditado em 19/02/2014
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