A Ferrari e o mendigo

Antes que Hélio lançasse sobre o planalto,

Seus raios algozes matando o conforto;

Propus divórcio à cama, assim, de um salto,

Namorando ideias que me fizeram absorto...

O estrondoso silêncio dos bons que escuto,

Pois, obstinados repetitivos os maus insistem;

À covardia, falta de brios quase sempre reputo,

tem vezes que chego a duvidar que existem...

Quem muito preza o aplauso fútil dos homens,

Vende a alma ao diabo por flores de plástico;

Ainda que mascare a troca com outros nomes,

Há limites à elasticidade do próprio elástico...

O tinhoso é miserável, sem a chave da sua casa,

A alma, eterna, desde que Cristo anda comigo;

Nem venha, pois com sua negociata parca, rasa

seria como tentar vender Ferrari a um mendigo...

gosto de homens que nem apreciam os gostares,

mais que ver a decência no espelho, sóbrio ouro;

efeito manada prescinde escolher nossos lugares,

mas, quase sempre vai berrando pra o matadouro...

a saudade todas as tardes desfila na minha rua,

traz um quê de ternura abranda essa sisuda cara;

impressionante como ela tem a aparência sua,

e quando chega, faz amenizar essa sorte amara...

assim segue a vida alterna duros e leves passos,

acostumei a esse jeito que tal caravana anda;

valores recrudescidos mais firmes que o aço,

sobre o qual a ternura destila gotas de lavanda...