Auto-atrevimento

Autocrítica é uma coisa muito crítica,

é fácil se atrever em alheias searas;

Dizem que fazendo projeção analítica,

noutros apontes se vê a própria cara...

vá bene, vou cá correr meus riscos,

tentando pintar traços como imagino;

nada de arte final, apenas rabiscos,

sequer sei se descasco esse pepino...

Da fachada o espelho diz cada manhã,

Lança o meu rosto em rosto, acho justo;

Que estou muito longe de ser um galã,

Mas, se chegar devagar, eu não assusto...

Da empatia, ora altruísta sofro a dor alheia,

Minha alma abençoa até os vagabundos;

Em outras o egoísmo polui minha veia,

minhas penas resumem as dores do mundo...

da perspicácia, também sou oscilante pacas,

ora saio da sombra como o mito da caverna;

outra não leio as mais ostensivas placas,

e qualquer um bundão me passa a perna...

De índole, que poderei mandar ao prelo,

Pra ser bem veraz e respeitar os leitores?

Com têmpera tosca pra não temer o martelo,

Sensível o bastante para plantar umas flores...

Do saber, eis uma aporia que me impede,

Minha ignorância ainda é muito pesada;

Quem sabe algo, ao ditoso dom não mede,

E quem pretende fazê-lo, não sabe de nada...