Reflexos.
Quantas vidas? Sou um velho.
Todos os dias que me vesti
Continuamente ao espelho,
Nunca me vi nem refleti.
Por tanto ser, sou só capuz.
De muito querer, falta-me luz.
O que vive não é o que sê,
Quem é não é o quem vê!
O que sou é ao que venho,
fico-me neste que não sou eu...
Por cada um fiz um desenho
De outros nus... não do meu.
Sou uma imprópria personagem;
Decalque de qualquer imagem,
Perversa, débil, lástima e só,
Que aparenta mais do que ser pó.
Por tal registo, vou mudando
Para aparecer na minha história.
O que se segue e não provando,
Dos vários que fui e da memória,
Muito para lá do que aqui sei
Do que perdi e encontrei,
Revejo: "O que de mim morreu?"
Mas em quem vivo, não sou eu...