Atraente

Quero a nudez das palavras
vestidas de fonética e semântica.

Quero a crueza da carne fresca
exposta logo após o abate.

Quero a contundência
mas no exato momento em
que é pérfuro...
e que rompe os limites do razoável.

Não quero os tons pastéis da
discrição hipócrita.
Que trama sobre o poder
que tece a urdidura manipulista
com cordas de títere.

Que humaniza violências.
Que canibaliza sentimentos.
Que corrói a alma
sem piedade e nem misericórdia.

Que banaliza o que é especial.
E se especializa em banalizar
absolutamente tudo.

Matar, amar, agredir e insultar.
Que as palavras enfim sirvam de redenção
Que libertem as almas cativas
no anonimato.
No silêncio-claustro inserido
no olhar cabisbaixo.

Na humilhação diária de ver as
raízes morrendo diante
do árido sol de verão.

Na humilhação compulsiva de
se sentir impotente.
E mudo.
E surdo.
E inerte à tudo.
Numa assepsia mental de autista.

Nesse mundo particular
As essências se apresentam
ora em palavras ou gestos ou,
simplesmente em poesias cotidianas
de ventos e tempestades.

Que venha a chuva
trazer as lágrimas que não verti.
Que venham os raios
relampejar os medos que não venci.

Que venham o mar
salgar e finalmente temperar o dia
para me redimir de todas as culpas
de haver se omitido
por comodismo.

Que venham o sol
trazer a luz ameaçadoramente quente
e aquecer a geleira
de um coração partido.

Que sabe assim...
no ciclo sábio da phênix
o tom cinza pareça
mais atraente.
GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 16/01/2014
Código do texto: T4651938
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