O tempo e a mocidade
Na mocidade, o relógio
não passa de mero adorno:
quando muito, é só um chato
– porque apressa o retorno
na hora melhor da festa
e, nessa hora, se apressa,
tornando o tempo pequeno...
Fora isso, é um mero adorno;
não tem peso, nem alcance.
É que são tantas as chances
que tempo é pra quem não tem.
Ser jovem é ter de sobra
o que há de mais precioso:
vigor, ousadia, gozo...
e todo o tempo também...
Jovem tem tempo de sobra:
chora fácil, sem motivo;
ri de quem sofre; é explosivo;
pouco faz, mas muito cobra...
Joga a vida em qualquer canto;
na sarjeta, os grandes sonhos;
esgueira-se atrás de sobras.
Ora ousado, ora bisonho,
sabe o que, mas nunca o quanto;
cria deus, inventa santo,
elege os próprios demônios;
bebe poções suicidas
da mesma tosca bebida
que envenena gerações...
Ah, isso não admite.
“É jovem. Tá muito à frente.”
Ai de quem der palpite...
Tão auto-suficiente,
repele energicamente
qualquer um que lhe duvida.
Nunca aceita opinião
e jura que tem razão,
que sabe tudo da vida.
Jovem sempre se acha eterno
– afinal, velho é que morre...
Ao jovem jamais ocorre
que todo velho foi jovem.
Resta saber qual dos jovens
alcançará a velhice...
Poucos deles se comovem,
mas penso: se o jovem visse
o vídeo-tape da vida
daqueles que o antecederam,
talvez entendesse um pouco
como será o seu futuro.
Porque plantamos no escuro
o que amanhã colheremos
e muito pouco sabemos
do que juramos saber.
Só o tempo sabe tudo
e tudo o que sabe esconde.
Ele, o tempo, é o nosso dono:
nós somos meros escravos
– passivos, dóceis ou bravos –,
ele manda – é sempre assim.
O tempo é tudo o que temos
e no dia em que o perdemos
também chegamos ao fim!
São Paulo, 13/01/2014 – 23h50