Espírito das Águas

Incorporo neste instante o espírito das águas...

A natureza em mim deságua o espelho do mundo

E me vejo refletido numa inspiração líquida

Em que o doce e o salgado se revezam pálidos

À cata da palavra que os tornem reflexão

Mediante o descaso e a luxúria de que são vítimas...

Mares e oceanos que foram corredores de tantas conquistas

São atropelados pela ação nefasta de um progresso doentio

Que faz da fauna e flora aquáticas escaravelhos de uma patologia

Recheada de parasitas, vírus e bactérias que homicidam o universo...

Rios, lagos, regatos, são afluentes de constantes enfermidades

Provocadas pela isenção de escrúpulos do raciocínio lógico

E, paulatinamente, são retratos de solos rochosos e sem vida

Que abundam nas consciências invertebradas dos seres humanos

E fazem da poluição o carro-chefe de uma política desavergonhada...

Crime ambiental que macula a virgindade da existência...

Lençóis freáticos envenenam a sede dos que bebem injustiças

E os aquíferos da terra saboreiam a catarse da imprudência...

Nos polos o degelo anuncia o dilúvio das gerações futuras

E certamente não haverá um novo Noé para salvaguardar as espécies...

Só lama restará nas camadas da atmosfera terrestre...

Cinzas e ruínas: heranças de um éden tão sonhado

Cobrirão todos os espaços transformados em vácuos

Diante de um ambiente desértico... Sol e lua perecerão...

Este é o quadro que se pinta do porvir tenebroso

Em uma tela deveras fosforescente da imaginação

Que o artista não cria visto tratar-se da densa realidade

Presente nas derradeiras lágrimas que teimam umedecer

A face da astúcia que sonega os princípios da Criação...

A semente da ambição desnutre os preceitos do Bem!

Ivan Melo
Enviado por Ivan Melo em 12/01/2014
Código do texto: T4647089
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