Metáfora do cão capitalista
Era um belo cão! Tinha pedigree!
Seu dono (um burguês de meia idade)
vivia, qual um poço de vaidade,
de tênis Nike, blusa e calça Lee.
E lá se ia ele, aqui, ali...
a exibir o cão, qual jóia rara:
corrente e coleira da mais cara,
vaso granfino pra fazer xixi...
Um certo dia, houve um cão vadio
que por ali vagava na esperança
de algum osso pra encher-lhe a pança,
algum abrigo pra matar-lhe o frio...
quando encontrou o cão e seu burguês:
—Au! Ladrou o vira-lata admirado.
Mas só o que ouviu do outro lado,
foi o desprezo surdo e a mudez.
Passaram-se os anos e o burguês
ruiu numa desgraça financeira:
perdeu seu patrimônio, a coleira...
o vaso de xixi, a altivez...
Seu belo cão-amigo "deu na pata"...
ganhou a rua sem olhar pra trás.
Hoje ele ladra, e mija, e come, e faz
tudo o que faz um velho vira-lata.
Enquanto o seu falido magnata
engrossa um tropel de passeata...
e a tropa da polícia lança gás.