Monólogos.
Na surdina do pensamento deixo-me ir só com
o seu busto de sombras. Como ele
sentirei a vontade.
No tumulto da amargura deixo-me estar...
com o silêncio e a sua ternura
de um momento ou vários de loucura.
Pensador quase pessoa, mas com a infidelidade
de ser pessoa, com o peso disléxico
do juizo. Nas sombras impudico!
Dançar? Eternamente dançar.
Um corpo sólido com quem viver e morrer.
Quando na noite o instinto de ser um ser
e beber trespassando os gritos da manhã
e o meu vulto for invadido pelas nuvéns ténebras,
o sol arderá brandamente sob as pálpebras.
Ela - negativo da chapa de um preto e branco em cor
mista de alegria e dor escondidas.
O odor ficará e o seu sabor para mim
como um lençol amassado e mascado por rosas.
Eu - em cada eu existe uma morte elaborada.
E enquanto os olhos imaginam, sob mãos, os sonoros
acordes da melodia do que sinto,
a vontade sobe pela pele, navega os poros,
mas desfaz-se na languidez do labirinto.
- Ó Mulher das ondas do mar, mulher nua sob
os dedos, mulher de ventre violeta onde o sal põe calmia,
mulher dos pés de barro, portadora da sorte,
trás-me os pós e a magia.
De volta ao lugar do senso comum, da seiva e da resina,
por algum aqui e agora.
Como sempre, de mim e de ti estes novelos.
E enquanto emanar da minha carne ignorância,
subjugo o juizo à sorte da minha sina,
os teus Mundos julgam a pura substância,
como mão na nuca quente entre os cabelos.
Comerei da tua prosa, para ficar tão forte
tal como a alegria desta metáfora.
Por todo o meu pudor faminto de pompa.
Engulo a minha mente cheia dessa imagem,
que eu sei quanto és íntima da tua.
Em mim renasce a pessoa, e a promessa tinge a estampa
com uma miragem.
Chega uma noite onde o louco se desfaz da lua
e na espuma da onda do meu pensamento
nadam circulos no momento.
E os circulos são o teu vento.
Carlos Pink