NARCISISMO

Narciso envaideceu-se no espelho das águas

E de sua beleza tornei-me bizarro afluente,

Em minha imagem não me desvendei diferente

E numa nódoa de tristeza afoguei minhas mágoas.

Lagos enfermos destituíram a formosura

Que evoquei da colossal sombra de Narciso,

Mas a poluição retrucou que não era preciso

Envaidecer-me de uma beleza que não depura.

Envelheci saturando a tez com cosméticos,

Em minha senilidade vejo-me assaz patético

Diante de uma iniqüidade deveras carcomida...

A beleza do corpo engelha e apodrece,

O belo está no íntimo que o tempo não envelhece

E que é dádiva de beleza para toda vida!

Ivan Melo
Enviado por Ivan Melo em 06/01/2014
Código do texto: T4638066
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2014. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.