Desafio do alter
Meu alter ego meteu o dedo na cara,
Dizendo pagar pra ver se eu poderia;
Definir em versos de uma forma clara,
Em quê consistem o sonho e a utopia.
Não sou muito de refugar aos desafios,
Há um arado a mover venha a canga;
Esse xereta vai ouvir o que jamais ouviu,
No fim vou rir; que ele chupe essa manga.
O sonho, ainda que seja abstrato, invisível,
Não nos tem de todo como sendo joguete;
Afinal, devaneia nas raias do que é possível,
E não raro entra sobre nosso rubro tapete...
A utopia constrói o seu castelo nos ares,
Esperando o que só um insano espera;
Afinal, alicerça no nada seus altos pilares,
Inverossímil com a policéfala quimera...
O sonho derrapa ante amor que embaça,
Então, alardeia já nem querer o que queria;
Quantas vezes, depois que o tempo passa,
Vigoroso renasce quando a espera dormia...
Utopia, com tempo ou sem, lida com o não,
O saara da realidade fazendo ver miragens;
Vertendo areia por água o viciado em ilusão,
O intangível é a mais pesada das bagagens...
Para ver se explico a coisa do melhor jeito,
Vou ilustrar o que devaneia e o que sonha;
Sonhar é como acreditar vencer um pleito,
Utopia é esperar que eleitos tenham vergonha...