Antônio e Aurora
[...] Suspirou descontente e fez um rosto dolorido quando enfim se dera conta de que havia se esquecido das bodas de ouro. Aurora sofria de memória e, portanto, só se recordara de seu aniversário de casamento após receber de Antônio o que parecia ser um buquê de flores. Antes, porém, que começasse a se desculpar, sentiu-se no direito de ficar em silêncio, pois viu-se guardada no compreensível peito de Antônio que, a essa altura, sorria em sinal de alento.
Após debochar dos lapsos de memória e outros infortúnios da velhice, Aurora desfez o embrulho, ao que reagiu com certo espanto.
Tratava-se d’um pequeno pé de Jabuticaba.
- Não estranhe minha querida, - disse Antônio, ainda sorrindo. - Saiba que meu romantismo não se limita ao costume dos mortais, que presenteiam suas amadas com algo cuja vida dura pouco. Vamos, plantemos este pé no quintal dos fundos, para vermos nascerem os frutos... Mais do que já vivemos, quero que nosso amor dure muito tempo.