ALEM DOS LOBOS? OU...APESAR DOS LOBOS

ALÉM DOS LOBOS? OU....APESAR DOS LOBOS

Além dos lobos, existem os cordeiros. Que são constantemente ameaçados pelos lobos. Não concordo com eles, mas não posso me cobrir com pele de lobo, para me misturar e passar despercebidos por entre eles. No entanto não posso ataca-los ou rechaça-los por causa da sua agressividade. Eles são assim, é a natureza dos lobos atacarem, sem nenhuma consciência ou misericórdia. Cada um tem que seguir a matilha, é o código do lobo maior e mais velho, os demais têm que seguí-lo para que não sejam banidos do grupo. Eu, como cordeiro que sou, nessa situação, nessa cadeia de evolução, ser manso e pacifico. É da minha natureza, apenas saber me defender de quaisquer ataques. Apesar dos lobos, terem sua face sempre num tom de extrema agressividade, eu já pude perceber que em alguns, no momento de ataque à presa indefesa, tem um ultimo a participar do banquete carnal, nem sempre a mordida fatal, fica a sua disposição. Isso deixa os outros com olhares de desconfiança da capacidade, desse outro lobo, de que em algum momento ele possa trair a matilha toda. Aí penso. Nesse instante relâmpago, não é a faísca natural, quando despertamos para o passo seguinte, a aceitação do degrau que se depara à nossa frente, o instante em que a luz brilha de maneira diferente, nos mostrando outras descobertas, que estavam `a nossa frente, mas de acordo com a intensidade da nossa luz, não conseguíamos distinguir. Fico a imaginar se algum dia eu também não fui lobo ou se vivi com pele de cordeiro. Ainda sinto o tom ameaçador que às vezes, lastima meu coração numa ansiedade passageira de revolta, em não entender os lobos e seus ataques. Se já fui lobo, como estão minhas vitimas? Seus medos e traumas preparam uma cilada para mim?

Então fico no centro entre a espada e a cruz. Em achar que tenho direito ou se é o meu direito que prevalece. Às vezes fico com as mãos em punhos cerrados, mas com certa doçura no olhar, para que me ajudem a abrir as mãos e sorrir levemente num agradecimento, por ter findado essa reação maléfica e receber uma doçura que eu pude perceber no olhar dirigido à mim. Até entre os cordeiros, existem uns ou outros mais evoluídos, para que possam, como seu, ser socorrido em momentos que deixo meu lado animal instintivo aflorar.

Apesar dos lobos, sou um cordeiro. Abracei e aceitei esse novo degrau na minha vivencia. Agora parte de mim a recuperação e percepção de achar esse lobo que teve instantes de indefinição, nesses novos raios fulgurantes que o deixou cego por segundos, que deixou a presa com preciosos momentos, para que pudesse ter a chance de empreender uma fuga, e lá na frente olhar para trás e agradecer, mesmos em entender o ato heroico ou impensado do inimigo natural, o lobo.

Sou cordeiro sim, mas já fui lobo. Um lobo que soube arreganhar suas presas, franzir os pelos da face, cerrar os olhos e partir para o ataque.

Talvez o lobo dentro de mim, que ainda sinto, em momentos que ainda não consigo defini-los, possa ser resquícios de um passado ainda latente na minha mente e numa briga constante com o novo patamar que me foi permitido subir.

Fui lobo. Lutei para me tornar cordeiro, pois o cordeiro tornou-se vida que me deu condições de entender que posso ser livre, ser líder, sem precisar seguir a matilha, que em respeito ao chefe, partilhava de atrocidades, que para os lobos, era o inevitável, era a cadeia natural da vida. A vida que me traria e daria o momento certo de perceber a luz, a que todos têm o direito de senti-la, uma ou mais vezes.

Sou cordeiro com pele de cordeiro, macia, aconchegante, pronta para ser oferecida ao mais necessitado. Pois quando abraço, também sinto o abraço. Sentir seu coração bater mais forte junto ao meu. Pois essa é a essência do abraço. Dar a oportunidade do abraçável e do abraçado, sentirem a pulsação da vida, da esperança, da companhia, do respeito pelo choro, que também me faz chorar de maneiro feliz, por ter sido dessa vez, a minha vez de doar o abraço.

l. blue, 03/10/2013