SE MORTO
Se morro hoje, nada saberei de amanhã.
Eu,
leitor assíduo de todos os jornais
não saberei, depois de amanhã,
que amanhã "houve" um terremoto na china,
que "houve" amanhã uma festa de socialites.
Nada saberei amanhã, se morro hoje.
Se morro hoje
de nada me valerão os livros que li,
e serão desimportantes as conclusões a que cheguei,
por mais intrigantes que tenham sido.
Se morro hoje
talvez seja notícia no jornal de amanhã,
mas como saber, se morto?
Se morro não importa o jornal.
Que fechem os jornais amanhã,
depois que noticiarem minha morte.
Se morro hoje,
que me perdoem os vivos, sem que perdão eu peça,
por me faltarem os sentidos.
Perdoem-me, vivos,
mas com os mortos haverei de me entender melhor.
Se morro hoje
talvez tudo o que tenha aprendido morra comigo,
talvez tudo permaneça, sem mim, vagando pelo universo,
ou talvez não aconteça nada.
Mas se morro,
e se morro hoje,
amanhã haverá pouca tristeza.
E é isso que me fortalece em vida.