Hostil espetáculo
I
O que eu era esta tão distante
que a mim parece outra vida
guardei suas memórias no ego
e rebatizei-a com outra língua
De vez em quando elas saem de mim
e minhas certezas se tornam menos claras
penso estar sobre-pesando fardos leves
e o resultado é nebuloso
como uma religião qualquer
O que vejo é filtrado pelo pensamento
e talvez o que percebo seja só sensações
tenho pensado nisso cada vez mais
e cada vez mais isso me confunde
As vidas que criei não são minhas
seu berço não são concretos e palpáveis
mas como faz a diferença tais vidas!
Raras vezes deixo eles conversarem
mas como eles não esperam sua vez
tal experiência me é dolorosa
eu só juro que manterei o controle
e tento de novo...
Deixam todos de ditar teorias
como me aborrece as teorias
pensam eles que sabem mais do que eu
que armei e paguei por este meu circo
Palhaços subsônicos, isto é o que sois
e suas piadas são tão sombrias
que tenho vergonha eu de rir delas
mas faço por fraqueza minha
II
Procurando na arquibancada
achei uma menina séria
não foi difícil encontra-la
ela era a única platéia
Não tinha comprado pipoca nem nada
queria passar fome e sofrer comigo
pena que por vezes quis sair
no meio do hostil espetáculo
É que ela não tinha entendido
nem as preliminares nem a base
deste show mal dirigido e selvagem
(talvez por isso ela a tenha chamado
de loucura mal planejada)
Ela esta até hoje na platéia
por vezes fiz um convite a ela
para que se unisse aos atores
lembro que ela só foi até o primeiro ato
Coitada, saiu mais confusa do que entrara!
H.H.