Inspiração indisposta
Meu poeminha esconde-esconde,
Enquanto conto, infiltra-se no monturo;
Tenta se evadir de mim indo pra onde,
Imagina que por escrúpulos não procuro;
Mas, o poeta esse estranho bicho,
É destro para reciclar também o lixo,
Se a inspiração nega-se por capricho,
O tato de sua alma enxerga no escuro...
Claro, sem mote é mais dura a pegada,
Pois podemos pegar pela ponta incerta;
Falar muito para dizer quase nada;
E auto crítica sonegar também o alerta;
Mas, o contraponto é mosca que pica,
Cuja picada é como uma seta que indica,
se a alma amanhece fechada, uma zica,
o jardim nos recebe de pétalas abertas...
Aí o hábito deixa de ser mero copiloto,
assume o timão pois, inspiração agoniza;
não leva muito jeito, claro, esse canhoto,
mas, zarpa, pois, acredita, poetar precisa;
inspiração melhora e às gargalhadas,
ri à farta da bainha querendo ser espada,
faina expressiva qual obra tatuada,
que grita impotente debaixo da camisa...