Rascunho ao punho da dor

Tentei criar minha própria historia e consegui até a metade do desenvolvimento, mas não conclui, pois uma paixão avassaladora me pegou de surpresa. Recomecei um rascunho, extremamente contraditório. E mesmo tendo coerentes conselhos dos mestres da vida, eu os ignorei e persisti. Quando digo que a paixão foi avassaladora, afirmo ela ser literalmente adjetivada de tal forma. Avassalou-me. Atropelou minha moral, minha essência. Dominou minhas vontades impermutáveis, minhas insanas e sãs loucuras de existir numa verdade absoluta de ser eu mesma sem me ferir ou ferir a alguém. Pois é!

Fui resumida a um alçapão colhedor de mentiras e tenho de filtra-las e transforma-las em verdades justificadas. Mas ando sobre espinhos, tropeçando em minhas míseras necessidades de estar bem. Imploro a mim mesma para existir como outrora, mas a aurora não retorna. Cruel necessidade de se estar bem, quando na verdade tudo que se sente é o mal de absorver o imutável ser que te domina pela pobre antropofagia da omissão. Omissão é tocar no vão, cheirar o indolor, se matar sem sangrar e sangrar sem se recuperar. Tenho eu, o ensejo de um desejo alheio que faz ressuscitar minhas palavras amargas, mas sincera tal como quimeras.

Perdi o tato da alma, a dor que cria cicatrizes como caminhos curtos que fazem lembrarmo-nos de onde viemos, o que fizemos e para onde não devemos ir. Não sei o que é perder o folego e recuperá-lo com a sensação de jamais querer perde-lo. Não sei o que é sentir a sensação do suspiro seguido de um sorriso. Não sei o que é ter a sensação pura de saber que não há razão, mas que há perdão para um erro. Ter razão em tempo integral é ter a prepotência de um recente sucesso e a certeza absoluta de uma iminente queda, derrota, mas que não se permite ser apalpada para evitar a certeza da existência. Só nós sabemos a certeza que há em nós. A iminência e a eminência de cada sentimento.

Preciso concluir esse rascunho e voltar a minha autentica historia de ser.