ÓCULOS OPACOS
Tudo se constitui
De certa forma,
Bem disforme
De tudo aquilo que a forma
Poderia formatar
Em outros tempos passantes
Algo se esvai
Como água por entre os dedos
E os segredos
Não repercutem em nada
Naquela mesma madrugada
Em que os grilos
Quebravam o silêncio frio
E a noite estava caminhando
Para um novo dia qualquer...
O endereço inexato
Na exatidão de cada ser
É como olhar o futuro
Dar um salto no escuro
E quase nada saber...
A sabedoria é companheira eterna
Daquela vida bem experienciada
Que traz consigo muitas noites sem dormir
E um caminhar sombrio na estrada
Mas ainda busca um sonho eterno
Que se petrificou na fria madrugada...
A constituição de tudo que aparenta ser
É ilusão de ótica
E a ética adotada
Dita umas regras malucas
Que a sabedoria se torna falha
E não consegue enxergar
Um palmo além do nariz
E o tropeço é certeiro,
Mesmo que o menino seja forte...
Os impasses impedem compromissos
Aquela flor já não é tão linda
Como já fora antes
E a solidão é um eco grande
Que responde a todo o instante,
Mesmo que a multidão
Esteja em pleno festejo
De um final-de-semana qualquer...
O som é sem qualidade
O ouvido é sem qualidade
A inteligência é sem qualidade
A burrice é um impasse para a compreensão
Da falta de sabedoria de verdade
E assim segue essa trajetória,
Sem fato, sem história,
Sem nexo, sem memória,
Apenas se embrutecendo de verdade...
O endereço da sabedoria é escasso
É preciso andar descalço
Para sentir as agulhadas nos pés
E a falta de compromisso na cabeça
De milhares de imbecis
Que se espalham como teia
De aranha por todos os quadrantes
De imenso Brasil,
Cor de azul anil
Que não suporta mais
O comportamento tão imbecil
De parte de seu povo
Que não quer ter compromisso
Com a transformação sociocultural
Desse país do carnaval.
A grande experiência ainda reina
Em alguns pontos estratégicos
Desse imenso território de quase ninguém,
Aliás, território do capital
Que vem de todos os cantos
Do mundo e faz uma
Lavagem cerebral na
Cabeça de nossos jovens
E os deixam imbecilizados
Ouvindo só besteira.
Aqui se tem realidade
Bem melhor vivenciada
Pelo intelecto de quem merece
Ter uma vida escrita
Por entre bronze e ouro
Estampado nos holofotes
Das manchetes de grandes jornais...
Aqui se faz jus
Aqui se faz tudo
Aqui sei quase tudo
Que um educador precisa
Para ser reconhecido
Em seu lindo papel
De ensinar futuras gerações,
Enquanto lá eu nada era
Além de servir de chacota
Aos imbecis que julgavam
Ser os detentores do saber
E descartando o que demanda
Inteligência para ser construído,
Afirmando que é coisa de velho
E que por isso não merece ser “curtido”.
A curtição é uma baboseira só
É apenas um pancadão
De uma nota só
E uma falta de criatividade
Onde a falta de civilidade
Parece ser muito maior
Que todos os valores até então
Gerados por outras gerações
Que pensavam no futuro,
Mas que não tem espaço nenhum
Nas cabecinhas de alfinetes
Desse gado que come pasto seco
Só porque estão de óculos verdes...
Aires José Pereira é mineiro de Salinas, poeta por gosto e por pirraça que acredita nas palavras transformadoras de homens e de espaços. Possui 12 livros editados e vários artigos publicados em eventos científicos e Revistas de Geografia. Em breve estará publicando mais alguns livros tanto de poesias quanto de Geografia. É licenciado e Especializado em Geografia pela UFMT, Mestre em Planejamento Urbano pela FAU-UnB, Doutor em Geografia Urbana pela UFU. É Prof. Adjunto A do colegiado de Geografia do Campus Universitário de Araguaína - UFT; Membro efetivo da Academia de Letras de Araguaína e Norte Tocantinense; Pesquisador do NURBA e coautor do Hino Oficial de Rondonópolis - MT.