HOMEM MODERNO
Vejo teu semblante de homem errante,
Tua sobriedade é tão vil, quanto infame,
Sinto em mim uma vergonha extrema,
Queria eu ser agora um embrião,
Ou até mesmo pó.
Queria eu não pertencer a tua geração.
Tem no peito o verme da cobiça,
Seguida de tamanho ódio e rancor,
Oh, irmão eu sofro por ti,
Lamento teu desfecho e por ver o teu guia:
Poder, poder, poder. É tudo em teus olhos,
Não vejo mais o brilho,
E sim um ardor sombrio.
O que será de teus descendentes?
Creio que não queira herdeiros,
Teme que estes te roubem a fortuna?
É tão triste tua desconfiança,
Contudo não é de toda vaga,
Afinal, os filhos fazem aquilo que aprendem.
Seguem os valores passados por seus mestres.
Perguntas quem foi tão má influência?
Foste tu mesmo, corroído pela cobiça.
E faltoso de amor e em amar.
Tua bondade nada mais é do que uma máscara,
Posso vê-la cair por terra,
Mergulhada em um lugar propício,
Onde? Na poeira, é claro!
O que lhe vejo fazer ao dia,
Faz para que lhe vejam, lhe admirem.
E quando cai a noite, e está longe dos comentários,
Mostra-se como realmente é,
Tua sombra cobre-lhe o rosto
E nesse mar de horror
Terrivelmente descansa.
Ainda lhe tenho compaixão,
Não posso julgá-lo,
Salvação ou condenação?
Não cabe a mim fazê-lo.
Contudo lhe resta o perdão,
Que eu por também ser humana
E errante, talvez não possa lhe dar.
Tarefa divina, gloriosa e digníssima,
Não cabe a mim.
As tuas mãos se estendem em direção
Oposta ou paralela ao nada.
Teus passos firmes a caminho do fim,
Refletem o teu “eu”,
Vazio, sem direção, sem razão.
E o mais triste em ti
É que o teu “eu” é sem efeito,
Sem existência.