Diálogo na Montanha

-Entenda meu corpo

Meu olhar

Minha expressão

Me ajude a procurar

Encontrar

Buscar me entender

Sozinho é foda

Sem você é foda

Freud explique isso

Entenda guria

Tu não me entendes

Eu não me entendo

Mas tentando nós podemos me encontrar

Em algumas destas esquinas

Nas voltas que essa vida dá

As ondas que vem do mar

Do mar que me dirijo

Mareado por estar longe

Longe desse mar onde nunca estive.

-Esqueça meu corpo

Meu olhar

Minha expressão

Desista de sua busca

Não vais me encontrar

Muito menos entender

A solidão é o paraíso

Sem alguém do meu lado

Freud te explique isto

Entendas por favor

Tu não me entendes

Eu não me entendo

Se continuares nada vai encontrar

A não ser tua própria solidão

Acompanhando-te pelas curvas desta vida

As ondas que vem do mar

Do mar onde estive surfando

Tu viste? Estou mareada disto

Longe deste mar eu não sinto o cheiro do sal.

-Mal vejo seu corpo

Nossos olhares não se cruzam

Tua expressão é fria

Me ajude a encontrar-te

Sei que estás aqui

Vamos nos entender

Contigo é bom

Poderíamos nos dar bem

Freud que se foda

Entenda guria

É você que me entende

Faça-me entender-me

Eu tento, mas não lembro dos nossos encontros

Nos encontramos às vezes, não?

Nessas distorções de lucidez que a vida tem

As ondas que trazem estes fragmentos

Do mar que me dirijo

Mareado por estar longe

Longe desse mar onde nunca estive.

-Entendo teu corpo

Teu olhar

E qualquer expressão

Não te ajudo a procurar-me

Pois sofri para nascer

Sofri para poder entender

Contigo estou

Sempre estivemos juntos

Apenas evito o contato direto

Sozinhos nos entendemos

Contigo é sempre bom

Não precisamos de Freud

Entenda guri

Tenho terríveis defeitos

Que desconheço

Mas tentando podemos tentar sair ganhando

Pelos destinos que se cruzam a gente costura

Na volta olhamos de cima

As ondas que vão à praia

Vão com fragmentos daquilo que jogamos aqui de cima

Mareados por estarmos em paz

Longe da praia onde sempre estivemos.