Chuva Ácida

Chuva Ácida

Agora minhas notas são para o vento.

Minha dislexia de atenção piora a cada dia

Compromissos me arrancam a pele e a paciência

Prazeres não existem mais

Minhas gargalhadas são falsas e forçadas

Infiéis ao que acontecem por dentro

“Os olhos mentem dia e noite a dor da gente”

E eu que sempre fui o mestre em rir pra não chorar

Não consigo mais fazê-lo

Me cuido pouco por não ter tempo pra me cuidar

Talvez nem interesse

Agora minha voz é só para mim e meus ouvidos nem alheios a aceita

Agora canto sozinho, pra mim mesmo

Pois não há mais para quem cantar

A arte, a música e a poesia estão aí para usarmos e abusarmos

Mas o poeta chora em ter que voltar a trabalhar

Sempre gosto de frisar que antes nada sairia do mesmo jeito

Pois a distância é tão ingrata...

Mas a vida encanta

O humano é tão incrível que consegue não se preocupar com o outro

Consegue ser desumano, para comportar-se como irracional

E assim, ensimesmado, se importando quase consigo

Sentir-se humano

O humano é tão fascinante que abandona o outro sem motivo

Destrói seu próprio meio e não pensa no futuro de 1 segundo depois

Que não sabe o significado de alteridade

E acha graça em gritar para o mundo que não sabe se colocar no lugar do outro

O humano é tão magnífico que esquece-se de si

Que gosta de ser mal educado e ter ódio, desamor

Por desvalorizar a arte, amor e poesia

Criar conceito pra tudo sem saber... conhecer

E não saber que nada é tão diferente assim

A chuva que começou a cair me corroeu por dentro e me deixou esburacado

E encheu de buracos o mundo, que esvaziou-se das coisas boas

Que as coisas vitais pra sobrevivência, capitais não compram

E que Deus ajuda apenas quem quer continuar andando

Eu e o mundo estamos vazios

A diferença é que não estou com tanta atenção assim

Luan Tófano
Enviado por Luan Tófano em 09/11/2013
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