BUGRINHO NA VITRINE
Olhar perdido, o bugrinho admirado
Um bom tempo ficou parado
Na vitrine da loja de brinquedos
Sonhando apenas, pois desde cedo
Sabia que não era para si
Pois tinha apenas para divertir
As lidas de juntar galhos e cipós
Para desfiar fibras com as mãos sós
Era dia a dia seu trabalho
Para a mãe velha fazer balaios
Compra um cesto meu patrão
Pois preciso juntar pro pão
Venho a tempo com a barriga doída
Nesta triste e dura sina da vida
De não ter bóia, poso ou parador
Enquanto vou rezando a Nosso Senhor
Pra me trazer, quem sabe um futuro melhor
Enquanto cada dia, cada dia fica bem pior
Um carrinho, uma carreta, um avião
Como queria poder ver em suas mãos
Para poder dar asas ao imaginário
Como lhe aliviaria o calvário
E adoçaria a rude infância
Antes que cresça e vá afogar ancias
No fundo de alguma taça
Amanunciado com a cachaça
Como tantos de sua gente
Que ao olhar indiferente
Do povo, segue extraviada
Carregando a sorte herdada
De ser o dono de tudo, mas não ser dono de nada