Tornando-me um estranho

Uma coisa estranha aconteceu
Quando perdi o interesse em dialogar comigo
E aos poucos fui tornando-me um estranho
E a indiferença por aquilo que sou
Tomou o lugar do entusiasmo
Em que inesperado momento isso aconteceu?
Um rio de águas escuras inundou-me a alma
E o sol que brilhava lá no horizonte já se pôs
E faz temer pela escuridão que se avizinha
Ainda ouço meus gritos da borda do abismo
Nem me ocorre estender a mão
Porque isso iria me fazer olhar-me bem nos olhos
E reconhecer o vazio de minha existência
Um itinerário sem destino
Uma locomotiva que se move pra lugar nenhum
Pode parecer lúgubre
Porém é verdadeiro e pulsa
É assim que um dia é inverno em minha alma
Para em outro brotar a primavera