Sessão de cinema
Venho de terras longínquas
Meu nome ecoando nas línguas
Mais diversas e pretensiosas
O público em êxtase se aquece
E meu coração desfalece
Em mágoa e desilusão
Alinha-se o projetor
Retrocede-se o disco
Oh! Está tão cheio de riscos
Marcas permanentes do tempo...
Há uma poltrona que me espera
Acolchoada. Tão bela!
Que me algema em si; é cela
Que me prende à tela
No final de minha última quimera
Na fileira de número sete
Sou espectador de meus feitos
De minha vivências; meus desejos
Testemunha de meus próprios defeitos
Cúmplice de minhas ignaras ousadias
Preso à minha Criação
De fato, uma obra-prima
Sem versos nem rimas
Só imagens em vão
Uma história de relatos
Rastro do meu legado
Imediatismo sem solução
A trilha surge do vão
Sol, ré, dó maior
Minha dor maior
Estimulando ouvidos,
Efervescendo sentidos
E seguindo assim num tom só
Um garoto ao meu lado chora com um amigo
E, de repente, a sala se eclode em agito
Durante a cena mais comprida
A minha grande despedida
E, desviando sua atenção,
A mãe consola o menino
— Calma, filho, isto é apenas ficção.
Estava a mãe certa
És jovem, menino,
Inda não encontraste a inocência perdida
Essa flor tão facilmente ferida
Aconchega-te na cadeira, apenas
Porque ainda há mais cenas
Na grande película da vida
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