Incompletudes
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Nascer é traumático,
angustiante...
O embrião do primeiro vazio.
Elos perdidos, sensação de temor...
Gestação de buscas;
compensações inacabadas;
incompletudes...
Sofremos pela ausência.
Imaginar nos angustia...
O encontro preencheria os vazios?
O sofrimento parece essencial,
continuado, intransigente...
Se a felicidade for ilusão,
a dor é que nos apraz, portanto.
Nossos desejos são mistérios
que devemos revelar.
Satisfação, inócua busca?
Sofro por querer...
O desejo está na existência.
E flui de mim, enquanto essência,
todo deleite da busca que faço.
Tenho consciência do meu desejo.
Desconhecer quem me espera,
espelhar-me na alteridade,
não faz de mim nenhum insano.
Se buscasse a mim mesmo,
sem olhar fora de mim,
que profanação – quanta loucura!
Nossos desejos, ilimitados,
eternamente insatisfeitos...
Nas mentes tolas e covardes
são colunas de sustentação.
Se os desejos não se bastam;
se a incompletude nos pedirá mais.
Por que saciar simples desejos?
A ausência angustia.
Ignorar o que se sente, também.
Desconhecer nossos desejos,
dualizando sentimentos,
inventando confusões...
É novel elemento,
distanciando a razão da emoção.
Não somos donos de nada!
Nem da nossa razão;
nem das nossas emoções...
Se existe buscar inconsciente,
enxertado de paixões.
Resignar-se, na fatalidade da fuga,
antecipa o retorno ao ventre.
Não quer respostas?
Então, que não se busque nada...
Nascemos e, como seres,
somos e sentimos...
E temos identidade.
Preciso ser de mim mesmo.
E estar no mundo como ator.
Fortaleza-CE, 27 de outubro de 2013.
16h54min
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