Rosas mortas

Rosas, rosas, cintilantes rosas

Que brilham vivas às luzes gloriosas

Da vida ativa, exuberante, colorida e inócua

Das dores inexistentes, recusadas e inóspitas

Descansam os olhos para o mundo em chamas

Envoltas por um campo próprio, perfumado, antibombas

Musas que emergiram da utopia da individualidade

Para padecer atrozes no paraíso da [pseudo]felicidade

Em buquês dourados, dominados

Pelos deleites maníacos, entorpecentes e caros,

Descansam magnificamente, endeusadas

Pelo egocentrismo de cuidados exacerbados

Acolhidas por um véu de seda alva;

Entorpecente ilusão! Vermelhidão da alma

Derramada do espírito da flor, arrancada

De um belo jardim cultivado no nada

Porquanto queima-se subitamente a policromia da necessidade

Com o forte traumático ignaro choque de severidade!

Fruto do degolar abrupto das [intocáveis] áureas cordas

Que retesa, anônimo, aos ares do diminuto

O pífio cheiro cadavérico das rosas mortas!

Enquanto que a serena e simpática e linda e

Companheira e colega e astral e

Aconchegante e familiar e musical sinfonia do rosal

Finaliza, belamente, o ato final

De mandar às cinzas o que sobrou

Do vermelho malcheiroso, feio, pecaminoso do resto mortal

Da rosa que um dia já fez parte do rosal!

Pois, no mundo azul e vermelho

Com paredes espancadas de mandamentos,

Os irmãos, no calar da noite esbelta e mansa,

Viram-se para os pianos

E invadem os sentidos de canção

E esquecem da vida

E jogam aos ventos

O pó das pétalas já murchas

Após o ritual de cremação!

(Porém lembram de tirar o dos uísques,

Envelhecidos junto com a humanidade dos bichos...)

Rosas, rosas, caladas rosas

Que repousam num cálice de águas gélidas e mortas

Sofrem, dolorosas, em cores ignotas

No majestoso alvor da alvorada manhosa

Vagarosamente, desfalecem sós e errantes

Por tristes devastadoras má vividas anedotas e amantes

Remediadas por mil e uma experiências com decotes

E esquecidas pela vida, pelos pássaros e pelos holofotes

E quando só restarem penosas açoitadas grossas

E quando na poesia não couberem mais vossas derrotas

Chorai eternamente, mortas rosas!

http://PeliculaPoetica.blogspot.com

Gabriel Coêlho
Enviado por Gabriel Coêlho em 26/10/2013
Reeditado em 02/12/2013
Código do texto: T4543532
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