NUMA NOITE DE LUA
Segunda-feira no mundo.
Outra noite que promete.
É uma questão de segundos:
Mormaço, lua, pivetes...
Na esquina, dois vagabundos
Afiam seus canivetes.
No barraco, mais aos fundos,
A mãe bêbada adverte:
“Cuidado com os vagabundos...
Vem pra dentro, Marinete.”
É uma questão de segundos:
Outra noite que promete.
Segunda-feira no mundo.
Mormaço, lua, pivete.
É uma questão de segundos:
Outra noite que promete.
Lá na esquina os vagabundos
Afiam seus canivetes.
A mãe na porta, areada,
Justifica: só um dedinho...
Cambaleia pela escada,
Mil degraus pelo caminho
E no lugar da escalada
Prefere mais um golinho...
Arriada, na soleira:
Nem pra dentro, nem pra fora...
Um rato espalha a sujeira
Um guri faminto chora,
Ainda é segunda-feira...
Mas isso é questão de hora.
Lá, nesse exato segundo,
Afiando os canivetes,
Estão os donos do mundo
Noutra noite que promete.
“Cuidado com os vagabundos...
Vem pra dentro, Marinete.”
Que linda, doce, faceira...
- Se liga na “piriguete”!
Um tranco, um baque, a carreira
Um talho de canivete:
- Nunca mais fala besteira
Da minha irmã Marinete!
Já é quase terça-feira...
Se alguém viu ninguém se mete...
Só a lua sorrateira
Envolve o pobre pivete
Que escuta, já na ladeira
A voz que ainda repete:
- Nunca mais fala besteira
Da minha irmã Marinete!
Nunca mais fala besteira...
A voz se afasta e repete:
Nunca mais... e na ladeira
A luz da lua reflete
E prateia a cabeleira
Da maldita “piriguete”.
Resta a lua, uma leseira...
Que tudo agora aquiete.
Que babaquice, bobeira:
Um talho de canivete?...
Que merda de terça-feira!
Era uma vez um pivete...
São Paulo, 22 de outubro de 2013 – 00h30
(de segunda pra terça-feira)