O Primeiro Celular

Hoje, num súbito, alçaste como um troféu, o meu celular,

Ví um brilho nos teus olhos e um sorriso diferente no teu rosto,

Assim, nesta posse, sempre reprimida, tuas mãos tremeram,

Posso, não posso, devo,não devo, parecias querer dizer.

Por instantes ficamos indecisos, eternos momentos de agonia,

A regra sempre foi não pode, mas o desejo, não segue regras.

O manual que te impuseram ao longo da vida, te deixou indeciso,

As amarras que te ataram por tantos anos, agora se faziam ausentes.

O tempo passava, passava, e nada acontecia ao objeto do desejo,

Não se desfez em cacos e, as tuas mãos já acariciavam as suas teclas,

Afinal, no que resultou essa barreira atroz, como entender o proibido,

Se o temor era mútuo, que tanto valia essa angústia pelo incerto ?

Ao final, conquistador e conquistado fizeram uma trégua,

O celular se aquietou em tuas mãos, e o meu peito suspirou aliviado.

Nada ocorreu, tudo estava como dantes, irreprimível e suave.

Só dos meus olhos, escorriam lágrimas fugidias de tão represadas,

E silenciosamente, formaram uma poça, no canto dos meus lábios...