Domínio do fogo aos seus filhos loucos
De silêncio revestem-se as piores loucuras
materializadas em pensamento,
feitas de belas faces, sóbrias, espontâneas,
exalando aroma de rosas,
demonstrando coerência e normalidade.
De normalidade revestem-se as piores loucuras
as convenções sociais,
as cobranças diárias de pessoas falhas
que querem no outro a perfeição.
De perfeição revestem-se as piores loucuras
metódicas, trabalho, trabalho, trabalho,
minúcias agudas, risos comedidos.
De comedimento revestem-se as piores loucuras
de explosão calculada
câmaras de matar gente
gente que mata gente
bomba que mata gente
arma sem som que mata gente
palavras que matam gente
gente morta que trabalha
gente morta que estuda
gente morta.
De repetição revestem-se as piores loucuras
terrorismos inventados
invasões premeditadas
invasões que não causam gozo
invasões que não tem gosto doce
invasões que expõem corpos e almas
invasões repetidas, invasões, invasões,
invasões dos que se dizem superiores
e não conseguem se olhar no espelho.
Invasões de voyeristas hipócritas,
de frases prontas e soluções,
de casamentos falidos,
depressões contidas,
solidão desmedida,
ausência escolhida
e arrependimento visível.
As palavras remetem às loucuras
das gerações passadas.
As crianças repetem
e não entendem nada.
As crianças repetem palavras adultas
sem reflexão,
as crianças são criadas para invadir,
para serem normais, para serem perfeitas,
para serem belas, para repetir.
As crianças perpetuam as loucuras
de suas famílias,
colocam rimas sem nexo em poemas amusicais
que não têm poesia.
Cadê a poesia da vida?
Cadê a poesia da vida?
Eu vejo a sua loucura ser transferida
Não permitirei.
Afaste-se.
Cale-se.
Meus poemas não têm rima
mas minha vida tem a poesia do saber,
do saber que não tens apesar dos anos de vida,
do saber artista que jamais conseguirás!
Trabalharás para ter dinheiro
Trabalharás para fugir de si mesmo
Trabalharás para esconder seus segredos e medos
Trabalharás para calar seus pensamentos
Trabalharás para esquecer seus sentimentos
Trabalharás, trabalharás, trabalharás...
Terminarás consumido pelos seus medos,
seu dinheiro, seus segredos, seus pensamentos.
Terminarás como o pó onde pisa o diabo
E sua loucura germinará quando o pó e o cuspe do capeta
se unirem para fazer nascer a sociedade humana
representada em microcosmo no filho que sai do
seu útero podre,
manipulado, envenenado, escarrado, dominado de ideologias e loucuras.
A terra deu o domínio do fogo
aos seus filhos loucos.
Tatiana Dalat 12/09/2013