Raízes venais
Logo de pequeno comecei a deixar sementes no mundo
Acho até que fui uma
Segundo minha mãe a mais fértil
A ela então o título de dedo verde
Viva a vida, sempre primaveril!
Será que somos grãos de esperança,
Perdidos em meio a lama,
A fama, a disputa pela luz constante?
Fui crescendo,
As raízes entornando nas terras de ninguém
Fiz amizades, escolhas
Aguaram minhas sementes também
Por vezes escolhi errado, pessoas alheias,
Que de ervas daninhas prejudicaram
Parte de minha sementeira
Algumas ainda nasceram, perduraram,
Amadureceram comigo,
Mas de pulgões se encheram
Ah parasitas, larguem de mim,
Seu fardo por uma andorinha só
Não fará primavera
Sua cor disforme consome
A água escassa de um homem
Com lágrimas na plantação
Fui crescendo, elas também,
Algumas rosadas, outras verdes, outras azuis de tristeza
Algumas foram se perdendo pelo caminho,
Fazendo-me implorar pela devolução de meu zelo
Quem sabe não foram necessárias
Para não perder a beleza de uma violeta
Aliás, o quão bela seria uma rosa sem os espinhos superar?
É, o tempo passou para todos,
As sementes que prosperam de frutos encheram, ramaram
O outono chegou, derrubando várias,
As amarelas que sobrevieram, ramaram mais
Fincando em minhas terras, laços carnais,
De frutos doces, “quimerais”
Se como agricultor da vida, vou vendo meu fim
A minha plantação fala por mim
Em minha última colheita,
Olho com afinco as sementes de outrora
Colho trigos, rosas vermelhas, pimentas
Debulho milho e corto cebolas a chorar
Tendo no fim da vida uma certeza,
Reguei com fé minhas sementes,
Que de árvores alheias, sombras souberam aproveitar
Gabriel Amorim 01/09/2013 http://devaneiospalavras.blogspot.com.br/