Despertardio
Depois que o andaime cair
Ninguém vai decorar fachada;
quando o peso de Cronos vir,
A vida será muito muito pesada,
Corpo sonegou da alma adquirir,
Sem uma gotícula no cantil,
Terá que transpor o deserto senil...
Quando enfim, o fim nos disser,
Que é o meio que a ele aponta;
E a beleza física já não tiver,
Qualquer centavo em sua conta;
Na mesa do juízo sem prato e talher,
A alma sofrerá a sede do belo,
Que desprezou num pretérito chinelo...
Quando enfim amadurecer o joio,
Onde deveria medrar apenas trigo;
E a sede bradar por um copo de apoio,
Pedindo ao ombro um ombro amigo;
Caronte vai levar no seu comboio,
Uma morte que recusou muito alerta,
cochilou toda a vida, e finalmente, desperta