Déjà vu
Eu vi um dia uma flor vermelha
Que brotava num chão arenoso
Ao lado repousava uma telha
E um animal perigosamente venenoso
Se aproximava sobre o ombro de um anjo
Ela tinha os lábios bem vermelhos
E andava descalça sobre ferros enferrujados
Sua pele azul já estava mofada
Por estar entre eternos silenciosos
O anjo se aproximava com a serpente
Que me daria o doce beijo da verdade
E derramaria no chão meu sangue quente
Devorando meus pecados com voracidade
E apagando as memórias do monstro aparente
Que um dia fui.
Ela ergueu os braços para abraçar
A mim que admirado observava
O pesadelo me possuir e, destroçar
A última gota de razão que me restava
E disse o anjo:
“antes de tomar de ti a vida
Saibas que morre por pecar contra
A inocência de tua própria filha”
A criatura azul que me abraçava
Recebe de mim além de desespero
O golpe de uma telha em sua face
E o suicídio do pai que a tomou
Senti minha pele dar lugar aos dentes
Que penetravam na minha garganta
Provei o chão em minha face quente
Somente pude sentir o cheiro de uma planta
Enquanto a cobra e o anjo sumiam lentamente
Eu vi um dia uma flor vermelha
Que brotava num chão arenoso
Ao seu lado repousava uma telha
Quando sumia um animal venenoso
E um anjo assassino que fugia covardemente.