Alexandre

O vi gritando por saudades dos filhos

Se embebedando nas águas imundas de um rio

Dividindo suas mágoas aos ares, implorando perdão

Por nada

Sorria sempre meio desfigurado

Amava a todos sempre contrariado

Jogado ao lado como brinquedo usado rezava

Ao que manipulava

***

A inocência era desconhecida

A bondade lhe faltou ao berço

Ninguém olhava, ninguém percebia

Que era um anjo deitado no lixo

Implorava

Pedia perdão

Por nada ter, nada ser para outros

Por um pecado que não tinha, mas o torturava

Mesmo assim chorava

***

Sei que morreu afogado na lama

E pude ver seus olhos infelizes cantando pra lua

Num suspiro de medo e rancor

Entregou para Deus seu perdão

Antes de o abater

***

Seus quatro filhos nunca foi conhecer

Tinha vergonha do que era e o que foi

Comia lixo, e sustentava o luxo

Dos imbecis que passavam e o olhavam

Se embebedavam ao lado de um santo

E vomitavam em seu cadáver quente

***

Não blasfemou, não brigou nem xingou

Tampouco amou, viveu e foi feliz

Pediu perdão a quem lhe devia desculpas

E adubou a terra mais cedo que pensava

No seu enterro ninguém o esperava

Mas dessa maneira foi sepultado internamente

O homem mais digno de paz que o mundo já viu

E deixou de ver

Luck Lima
Enviado por Luck Lima em 01/10/2013
Código do texto: T4506278
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