Aos Cacos De Sei Lá Quem
Me perco aqui dentro.
E em meio ao meu lamento
me vejo diferente,
intransigente comigo,
e em frente ao amigo,
o espelho que me reflete,
me pergunto:
quem é você que vejo?
Onde se escondeu meu desejo?
Entre quem querem que eu seja
e quem eu gostaria de ser,
sou apenas um outro ser
que pareço não conhecer.
Vou tentando coordenar
meus gestos e passos,
tentando caber no espaço
e não me partir aos pedaços,
aos cacos de sei lá quem.
Luar, me diga, meu bem,
como me tornei refém
e quem é esse alguém
em quem hoje habito?
Podes ouvir meu grito?
Não sei por quanto tempo
serei forte e darei sustento
a esse ser, quase inanimado,
coordenado, condenado
a desmoronar frente à plateia.
Quem escreveu esta Epopeia?
Quem a chamou de vida?
Quem me dará guarida
quando as cordas eu romper?
Quero crer que terei coragem,
mesmo estando em desvantagem,
de abrir mão das personagens.
E então, finalmente,
me verei de frente
e abraçarei a liberdade
de ser eu e mais ninguém.