Aos Cacos De Sei Lá Quem

Me perco aqui dentro.

E em meio ao meu lamento

me vejo diferente,

intransigente comigo,

e em frente ao amigo,

o espelho que me reflete,

me pergunto:

quem é você que vejo?

Onde se escondeu meu desejo?

Entre quem querem que eu seja

e quem eu gostaria de ser,

sou apenas um outro ser

que pareço não conhecer.

Vou tentando coordenar

meus gestos e passos,

tentando caber no espaço

e não me partir aos pedaços,

aos cacos de sei lá quem.

Luar, me diga, meu bem,

como me tornei refém

e quem é esse alguém

em quem hoje habito?

Podes ouvir meu grito?

Não sei por quanto tempo

serei forte e darei sustento

a esse ser, quase inanimado,

coordenado, condenado

a desmoronar frente à plateia.

Quem escreveu esta Epopeia?

Quem a chamou de vida?

Quem me dará guarida

quando as cordas eu romper?

Quero crer que terei coragem,

mesmo estando em desvantagem,

de abrir mão das personagens.

E então, finalmente,

me verei de frente

e abraçarei a liberdade

de ser eu e mais ninguém.

Elen Rodrigues
Enviado por Elen Rodrigues em 25/09/2013
Código do texto: T4498209
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