MINHA CASA É O CHÃO DA RUA
Minha casa é o chão da rua,
Minha luz a luz da lua.
A sorte minha não é igual a tua.
Sou infeliz escravo da realidade crua.
Durmo arrepiado no banco da praça
E quando me olham, Virgem! Que carcaça.
Mau elemento, cheirando a fumaça.
Ébrio contumaz, só fede a cachaça.
Companhias não tenho, vivo a vaguear só.
Meu padecer é latente, de uma tristeza que faz dó.
Ninguém me olha ou me ouve, acham que cheiro a pó.
Vivo numa luta infinda para desatar este nó.
Se por uma esmola imploro espalmando a minha mão
Ouço angustiante resposta uma voz a me dizer não!
E logo vão alargando os passos, apressados como são.
Meu mundo é mundo da praça, de descaso, mundo cão.