O Momento

Do mundo não há o que se explicar,

O mundo é, foi e será,

A morte para nós nada é,

Um não ser num futuro,

Que nos priva do presente.

Ah! Que felicidade em ser mortal!

Olho para as coisas e elas existem

E elas são e eu existo com elas

E se um dia não mais aqui estarei,

Nem tampouco as coisas,

Novas virão

E se as coisas são dessa forma,

Agradeço por serem assim,

Se me tirassem minha morte,

Tampam-me minha visão

Morro aos poucos,

Sem pressa,

Cada dia,

Preguiçoso

Morro e não penso que morro,

Sei que morro,

Mas pensar que morrerei é tolice!

A morte não é fato,

É processo

Basta-se nascer e já se começa a morrer

E se escrevo dessa forma

Não é que uma grande tristeza me aflija.

Ao contrário, é que olho as árvores e ouço os pássaros e sinto o vento

E tudo é tão belo e grande e enche minha mente com bons sentimentos de mortal

É tudo tão maior, e tudo tão belo e eu faço parte de tudo

Existir é bom

Basta que seja bom

Por que temos que querer que tudo seja eterno?

Ao momento basta-se,

Um aroma de eternidade o envolve

A única coisa eterna é o momento,

E ainda assim vai

Por que nos preocupamos tanto com uma vida eterna?

Viver já não basta?

Viver e só e e saber que é um momento, e que é bom

O eterno não existe,

Anda-se, anda-se e não se o alcança nem em imaginação!

Como procurar felicidade naquilo que nunca se alcança?

Só pode haver paz no momento,

Pois só o momento tange a eternidade

Nossa vida toda: um momento

Nunca vivemos o passado,

Nem havemos de viver o futuro,

O momento

Eis o que vivemos!

O fluxo eterno do momento

Gabriel Valeriolete
Enviado por Gabriel Valeriolete em 20/09/2013
Código do texto: T4489988
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