O Momento
Do mundo não há o que se explicar,
O mundo é, foi e será,
A morte para nós nada é,
Um não ser num futuro,
Que nos priva do presente.
Ah! Que felicidade em ser mortal!
Olho para as coisas e elas existem
E elas são e eu existo com elas
E se um dia não mais aqui estarei,
Nem tampouco as coisas,
Novas virão
E se as coisas são dessa forma,
Agradeço por serem assim,
Se me tirassem minha morte,
Tampam-me minha visão
Morro aos poucos,
Sem pressa,
Cada dia,
Preguiçoso
Morro e não penso que morro,
Sei que morro,
Mas pensar que morrerei é tolice!
A morte não é fato,
É processo
Basta-se nascer e já se começa a morrer
E se escrevo dessa forma
Não é que uma grande tristeza me aflija.
Ao contrário, é que olho as árvores e ouço os pássaros e sinto o vento
E tudo é tão belo e grande e enche minha mente com bons sentimentos de mortal
É tudo tão maior, e tudo tão belo e eu faço parte de tudo
Existir é bom
Basta que seja bom
Por que temos que querer que tudo seja eterno?
Ao momento basta-se,
Um aroma de eternidade o envolve
A única coisa eterna é o momento,
E ainda assim vai
Por que nos preocupamos tanto com uma vida eterna?
Viver já não basta?
Viver e só e e saber que é um momento, e que é bom
O eterno não existe,
Anda-se, anda-se e não se o alcança nem em imaginação!
Como procurar felicidade naquilo que nunca se alcança?
Só pode haver paz no momento,
Pois só o momento tange a eternidade
Nossa vida toda: um momento
Nunca vivemos o passado,
Nem havemos de viver o futuro,
O momento
Eis o que vivemos!
O fluxo eterno do momento