Sensaboria
Eu já vi cada uma dessas paredes cinzas
Eu já ouvi cada uma dessas vozes
que falam, gritam, e pouco dizem
Já pisei demais nesse chão
De poeira, medo e rotina
Procurando um novo caminho pra além dos meus horizontes
E o que eu vejo é só uma linha imaginária
E o que ouço são apenas bolinhas quicando no vazio
A novidade escapou dos meus braços ocos
e eu a vejo feito cobra,
rastejando rumo ao norte
Ei, eu já não vejo mais o risco do equador
Os abraços são sempre os mesmos,
e os beijos também
Os assuntos, pautas, discursos, faltas
Me levam sempre aos mesmo ponto
Amém.
Minha cabeça deu um Looping
é que eu já não aguento mais.
Todo dia acordar cedo e dar comida aos animais.
Nada muda, não, tudo prevalece assim
até aquele velho novo sonho de ir pra Califórnia.
E me acabar na esbórnia,
em um desses sujos bares
ou quaisquer outros lugares
Que ofereçam uma dose de esquecimento
Dessa maldita rotina, que se tornou minha sina
E eu nem sequer me lembro em que momento.
Sangrando em guardanapos, pele, osso e trapos
resultados de uma vida inteira de tédio
Naquela casa, as vozes que gritam
e sussurram e maltratam
já não são mais o meu remédio.
As paredes cinzas me bloquearam de ver o novo
É só monotonia!
Então me vejo sentado no chão
atormentado por essas paredes
de um quartinho qualquer
da grama já não vejo o verde
apenas algumas vozes ecoadas na sala
elas me levam até o começo:
É só monotonia!