Espontâneas Analogias
Sentado.
Com uma lágrima presa
na garganta.
Com o olho fixo no papel-psicólogo
e o ego tentando agarrar-se à sua própria lembrança:
Toco no bloco de notas
que, outrora, era teu;
procuro pela caneta
antes tua, agora, minha:
perdeu-se... na bagunça que é
a minha mochila
e a "substituo" por outra
mais à mão,
mais disponível.
E penso nessa incrível analogia
que acabo de construir
entre a minha relação - perdida - "papel-caneta-eu"
e a minha relação
- perdida? - sentida,
do "eu-tu-nós". Da amizade pura, genuína.
Tranquilizo-me ao chegar em meu destino:
nossos caminhos se cruzam,
- mas são passageiros:
terminaremos na próxima parada?
(como pareço terminar o verso?)
Reencontraremo-nos na chegada?
(como retomo o papel e a caneta ao chegar em minha casa?)
- Entre nós
não há espaço para arrependimentos...
- mas, ah!
E se arrependimento funcionasse!...
E se a dor da perda resgatasse
quem nos é querido! -
Não! Nossas filosofias de vida, minha e tua,
não dão espaço para lamentações...
E assim, limito-me ao exercício de,
com um misto de curiosidade
e regozijo,
imaginar tua cara ao ler tudo isso
e, quem sabe, prever as tuas reações...