A dança no escuro

Às vezes a poesia não vem em palavras
Simplesmente dá uma vontade louca de dançar.
Isto mesmo, dançar.
Olho-me na câmera de meu vídeo
E me pergunto, com semblante zombeteiro,
Mas você com esta cara de sério, vai dançar?
Não respondo e começo logo a dançar.

Não, não, não é uma dança qualquer
De um louco se mexendo
Sem um ritmo determinado
Balançando seu corpo desconexo
É uma dança planejada.

Dias atrás puxei uns vídeos do Youtube
Com um professor de dança do outro lado.
Sigo, agora, os seus passos
Escondido em meu quarto trancado
com o fone de ouvido preso às orelhas.
Fecho os olhos e viajo
Equilibrando-me no tempo.

De volta à juventude
Vou lembrando dos amores,
Dos beijos, dos abraços,
Dos sorrisos, das mãos dadas,
Da família que se desfez,
Dos gritinhos dos meninos
Puxando-me pelas pernas, jogados ao chão
Na brincadeira de super heróis.

A dança segue o ritmo do professor do Youtube.
Não sei se estou no passo certo, mas estou no meu.
O som do fone apenas serve para me guiar
Pelo devaneio neste ioiô da vida
Que, de olhos cerrados, balanço em minha mente.

Ah! Quantos enganos, quantas esperanças
Que se mostraram fumaças apenas.
O meu quarto está escuro, o vídeo acabou
Mas eu continuo dançando
Na escuridão de minha mente