Do sobrado vejo passar em meio a multidão,
os velhos que foram crianças em meus olhos.
Atravesso o tempo de incertezas
sabendo que tais emanações
traduzem rugas de angústias,
onde não há mais escrúpulo em minha inveja.
Todos os velhos que passam,
passaram pela vida debaixo de minha sacada.
Mas, o velho que vos fala viu apenas a vida passar
por cima do nada.
Toda tradução espúria da minha existência,
logrou-se na solidão e na infame crítica
que fiz de geração a geração.
Minha família foram os abomináveis vícios sociais.
Minhas mulheres, as cortesãs mais ávidas
por dinheiro.
Mergulhado no assombroso caos do egoísmo,
não me dividi, sequer, para ter filhos.
E interrogo-me até sobre a existência de Deus.
Entretanto, das diversas gerações que perfilaram
minhas vistas, pergunto:
- Se todos, os melhores que eu, se todos eles
conseguiram ser mais santo do que este ateu?
E se santos foram, por que não chamam
a realidade de céu?
(Esta é uma obra de ficção).