O Grito dos Calados

Quando um desejo de gritar for engolido,
Este será como que ferida que se abriu.
Será um nódulo indesejável a instalar-se.
E restará, então, concluir pela impotência.

Impotência que será força resignada.
E suposta fraqueza levará à queda.
Um cair ilusório ou dor sentida sem cura.
Não haverá como não ter cicatrizes.

Pesado é o silêncio dos que se fazem calados.
É espaço onde as palavras amarguram-se,
Sem letras que unem em veneno natural,
São dores que... ai da audição que as ouvir!

Não se trata de maldade, nem de algoz ou vítima,
É apenas tristeza que verteu-se em angústia.
E o que era doce já não é mais, mas torna-se acre.
Flores delicadas que a vida fez fósseis vivos.

Então, quando menos se espera, o grito,
A loucura que transborda o espaço da razão.
Que se fechem janelas, não perca a elegância,
Que sejam mantidas as educadas superficialidades.

Mas não, já não basta suportar aparências.
O feio mutila a beleza, mas tem beleza de realidade.
E o grito só pode ser evitado com palavras ditas
Que aliviaram o coração, e dariam direito a existir.
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 14/01/2010
Reeditado em 28/09/2017
Código do texto: T2029589
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