Palavras Perdidas
Talvez escrevesse algo bom, mas faltava inspiração.
Algo bonito, talvez, mas a imaginação tinha preguiça.
Nada justificava o ato de escrever, uma crise, talvez.
Mas ainda era uterina, não tinha noção objetiva.
Quem sabe uma insatisfação, uma mágoa oculta,
uma rebeldia tão silenciosa que fazia-se calada.
Sim, uma dor da alma reclamando no corpo,
buscando alívio no confessionário das letras.
Porém, uma confissão secreta, sem identidade,
sem forma definida, apenas gerando incômodo.
E supondo haver algo, descobriu apenas grande vazio.
E nele silenciou todo o seu ser, calou-se para ouvir.
Ninguém, entretanto, disse-lhe nada, ficando inativo.
Tentando consolar-se dado que, por nada fazer,
não cometera nenhum erro, tão costumeiro ao agir.
E assim, no nada encontrou alguma filosofia.
Se pobre ou rica, isto de fato pouco importou.
Sei que a fez de companhia, parceira da solidão.
E nesta completa falta de propósito viu alguma graça.
E mais uma vez, rebelde, questionou,
porque algum propósito deveria haver de ter.