Olhando para a Morte
Por toda tolice... vaga,
pois que a inércia toma o corpo.
Destituído da vontade férrea,
apenas suporta-se,
aniquilado em cinzas
que querem apagar-se de vez.
Exausto das promessas,
exausto das ilusões.
Exausto de si
e tendo apenas coragem para temer.
Temer a insensatez,
temer a morte que não vem.
Temer a morte que haverá de vir,
uma falta de sossego.
Sentindo que, de momento
para outro tudo, pode ruir.
Como manter, então, a sanidade
em meio à falta de propósito?
Já não se está perdido,
mas absorto, desvinculado e preso.
Patético, à mercê do corpo
o espírito finalmente se curva.
Tolo, sente toda a fragilidade da vida.
Se até então zombava da morte,
hoje reconhece sua força.
A morte não tem foice,
mas sim um punhal.
É arma de ponta afiada,
atraiçoa as esperanças,
leva parte de nós,
que ficamos apenas
com as migalhas de fé.
Quanto temor em ser
ingrato com o Criador.
Mas só consegue
constatar a própria ignorância.
Para quê? Por quê?
Por que saber?
Descaso ou ansiedade?
Pela inquietação exausta,
será antes a tortura da ansiedade.
Nem céu, nem inferno,
a falta de paz estará sempre a rondar.
Por quantas efemeridades
terá que exaurir para crer na eternidade?
Nada diz, não quer dizer,
não encontra respostas.
As palavras estão rebeldes,
estão em fuga da inspiração.
Descrédito de si.
E o tempo não tem irreverência alguma.
É força que, invisível,
apenas vê tudo passar, indiferente.
Tolos, apenas tolos.
Tolos que almejaram a felicidade...
Tolos que apenas conseguiram ser tolos.