O Bem e o Mal

Como pode ódio e agressividade
conviverem com amor e afetividade?

A realidade, após constatada, 
parece prevalecer sobre
o que fez-se meramente conceitual.

Como entender a configuração
dos temperamentos tropicais,
com virtudes a afrontarem pecados
que desmentem o maniqueísmo
de bem e mal?

Como julgar apenas
com os limites da razão,
se esta mesma parece
evoluir ao longo do tempo?

Pode um semeador de trevas
ser o cultivador a espalhar
sementes de luz num futuro longínquo?

Haverá da obstinação
verter-se em perseverança?
Da vontade individual,
tornar-se dever ao coletivo?

Será possível a verdadeira justiça,
que não leve à condenação eterna,
se não houver a misericórdia?

Será possível a misericórdia
se não houver a efetiva justiça
que permita não banalizar o perdão?

Movimento evolutivo.
Sob as belas paredes
do templo da sabedoria
não haveria o alicerce da ignorância?

Pois não seria lógico supor
que antes de ser,
haveria de ter que surgir,
de efetivamente existir?

E existir é antes força
do que consciência. 
Admiti-los nascidos juntos,
seria desconsiderar evolução.

E se assim for, 
haverá estranha esperança 
de ver no orgulhoso de hoje
o humilde do amanhã,

no impertinente e dogmático
moralista do presente,
o que é cônscio do seu dever,
e dirigido pela ética no amanhã.

Quem sabe, ainda, 
que nas estúpidas
vivências de guerras 
se crie aversão
que leve ao sagrado
desejo de paz.

Só almeja, de fato, a harmonia 
quem vivenciou os transtornos do caos. 
Só renuncia quem antes fartou-se.

E por isso só deseja
o afeto e o amor
aquele que reconhece a inutilidade, 
a finitude e os malefícios
do ódio sem fim.

 
Gilberto Brandão Marcon
Enviado por Gilberto Brandão Marcon em 07/09/2009
Código do texto: T1797547
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