Oh, Fortuna!

Fortuna! Fortuna! Fortuna! Salve!

Dor e desespero

Consagração e glória.

Bem maldito que a todos os entes

que compõem a humanidade, atrai,

com força sedutora de senhora escravisadora,

com golpes de carrasco que aos fracos dilacera

e os deixa pendentes sobre o abismo medonho

que a presença do inconformismo impotente gera.

Oh, Fortuna! Senhora e rainha do mundo!

que a todos põe em sobressalto! Salve!

Eu te quero com o querer mais intenso,

com o sentimento e o desejo mais profundo!

Poderei arrebatar-te, prêmio imenso?

Servirá teu reino aos refrões da pura arte?

Com imperadores e mendigos se reparte

este louro de chamas, que quando presente

queima a cabeça com atribulações,

e a faz arder para obtê-lo, se ausente.

Fortuna que abre caminho e afasta corações,

Fortuna que recompensa esforços e os engana

E enriquece os pobres pela voz da posteridade.

Fortuna! Tal é o poder quede seu ouro emana

Que por ele se remodelam personalidades

e se pagam de viver nas saudades

dos teus braços, do teu colo deleitoso

que sem corpo é um delírio amoroso,

saudade sem tê-la alcançado,

posse sem nunca tê-la abraçado.

A um gesto teu, Fortuna, do esperado chamamento

Fluem para ti, em frenético, deseperado atropelo

uns aos outros, se destruindo pela jornada,

o tolo, o frívolo, o sabio e o gênio;

A feia, a puta, a bela e a pura formosura.

suspeito que até o vento e as estrelas

tão livre um

as outras tão suspensas no mar da eternidade

te cobiçam com forças loucas, redobradas,

e por ti sacrifiquem alturas e liberdade.

Obscecante destino, áspera conquista

que se exibe no elevado monte

tendo um caminho estreito e íngreme

que ver não deixa o horizonte

e ameaça a cada passo e instante

o viajante com profundo abismo.

Lá no alto de luzes resplandesce,

extasia e inquieta toda gente,

a deixa nunca calma, sempre a sofrer,

sempre e sempre a vida eterna descontente

(eterna no seu renovar-se e morrer)

Entre o nada do abismo e a luz que o todo

pode comover e mover a caminho estreito

uma legião de homens a buscar teu leito.

Embaixo o vazio negro e medonho,

onde muitos, Fortuna, tua luz precipitou.

Aquele que com fogo te amou

e por ti hoje sozinho e bisonho

vislumbra debaixo o cume que se apartou

Para todo sempre de seu louco sonho.

1993