Quadros
Quadro I
À minha frente se estende o mar rugindo,
Acima o céu calado,
Às vezes um pássaro da floresta
Soltando uma escala perdida
Em meio aos ecos da criação.
Um rouxinol que se perde nos ares
Circundando um vôo atrevido
E o reclamar vigoroso dos mares
A roçar o áspero penedo.
Notar tudo isso é sinal de grandeza:
No reino de Deus os melhores
São os que agradecem de mãos fendidas
E não os que se esganam de dores
Pela importância adquirida.
Se este espetáculo acabar, que importa?
Deixai o tempo passar, sem medo.
Não temas, curte a ardentia
Das praias de verão.
Quadro II
Como veleiro sem mar
Como corredor sem rumo
Sigo avante a vislumbrar
As dores que em verso resumo.
Da aurora ao poente
Pesa-me o mando das horas
E calado, contente,
Me vergo às tais senhoras.
Imenso, o horizonte acena
Me chamando a novas aventuras
Mas preso no solo
Fico a esperar futuras
Novas, sem consolo.
1996